quarta-feira, 20 de março de 2013

orgulho de ser castanho

Meu marido tem lindos olhos verdes. Herdou o tom claro do pai, que tinha lindos olhos azuis.
Ainda assim, me dá um nervoso que as pessoas olhem para nós e dizem: "Tomara que os filhos de vocês puxem os olhos do pai. Imagina que coisa linda, nascer tudo de olhinho claro!"
E por acaso castanho não é uma cor bonita? Por ter olhos claros é condição pra se ser bonito? E por acaso todo mundo que tem olho claro é bonito?
Eu gosto muito de castanho! Acho a cor linda! Até a palavra "castanho", eu acho bonita. Pode ser um ato inconsciente de autodefesa, autoestima, mas eu adoro todos os tons de castanho - do mais escuro, quase preto, aos mais claros, quase mel, passando pelos tons esverdeados, são mais do que os tons de cinza do livro. Acho confortantes, confiáveis, acolhedores. Familiares, talvez. E, mérito seu, o castanho combina com qualquer tom de pele.
Acho que o castanho merece tanta admiração quanto qualquer verde, qualquer azul.
Se meu marido tivesse os olhos castanhos ele seria tão lindo quanto eu acho que ele é com seus olhos verdes. É como uma fotografia: se for boa, fica bonita colorida, em "sépia", em preto e branco.
E tenho certeza de que nossos filhos serão lindos de qualquer jeito, e de qualquer cor!
E embora eu não tenha como escolher, não vai ser nada estranho que puxem o gênio birrento da mãe e venham todos castanhinhos, só pra dizer ao mundo, "viu? Eu sou castanho e sou lindo! Não preciso de olhos claros pra isso!"
Sim... é bem capaz de que eles venham castanhos como a mãe, com os cachinhos do pai e - tomara! - com as bochechas da tia Jeniffer.


segunda-feira, 11 de março de 2013

fraldários para todos

Daí que esses dias fomos a algum lugar, que não me lembro onde, se shopping ou restaurante. E daí que eu fui ao banheiro e lá estava o fraldário. Não no corredor, como acontece em alguns lugares, mas dentro do banheiro feminino, como acontece e muitos lugares.
E como eu sou dessas, não resisti e perguntei ao marido, que também tinha ido ao banheiro, se no masculino também tinha um fraldário. Claro que a pergunta foi retórica. Eu já sabia a resposta. Claro que não tinha nada no banheiro masculino, porque, afinal, trocar fraldas não é coisa de homem, né? Não é coisa de pai, só de mãe. Pai só troca fraldas em casa, onde ninguém vê, e se trocar.
Quer dizer, imagine que é meu aniversário e eu resolvo chamar uns amigos pra almoçar nesse restauante/shopping. E imagine que levamos nosso pequeno e rechonchudo bebê. É meu aniversário, são meus convidados, eu sou a anfitriã da festa. mas se o neném fizer cocô, quem tem que sair da mesa sou eu. Ou uma voluntária solidária.

Vamos supor, agora, que eu esteja trabalhando, como faço sempre nos horários mais impróprios, (aqueles em que as pessoas se reúnem e tal) e que meu marido vá como nosso lindo e fofo bebê ao aniversário de um amigo. (antes que alguém diga que o pai do meu filho é um irresponsável que leva uma inocente criança para a balada, com muito álcool e cigarro, vamos imaginar que é um almoço num lugar e horário super "famílias" tá?) O neném fez cocô de novo. E aí? Ele:
(   )Volta pra casa?
(   )Pede pra uma amiga trocar o bebê?
(   )Nem vai pro tal aniversário (afinal, onde já se viu, um pai passeando por aí sozinho com x próprix filhx)?

Terceiro exemplo: eu estou de folga, e nós resolvemos passear. Daí paramos pra comer. Pra comer metade da quantidade de comida que o maridão come, eu levo, pelo menos, o dobro do tempo. E ele fica logo aborrecido com a demora. Olha aí a criança fazendo cocô de novo. Só eu acho que seria muito melhor se ele fosse trocar a fralda enquanto eu acabo de comer em vez de esperar eu trocar a fralda E terminar de comer?

Pelo dia da mulher que acabou de passar, eu peço aos meus amigos arquitetos que me ajudem a provar que o pai pode fazer tanto quanto a mãe nos cuidados com o bebê. Por favor, se forem colocar o fraldário dentro do banheiro, coloquem nos dois banheiros! Vamos revolucionar o mundo e dizer a todas as pessoas que acham que pais não podem cuidar dos bebês sem a mãe por perto que eles podem sim! O que eles não podem (mesmo) é entrar no banheiro feminino!

domingo, 10 de março de 2013

O mito da caverna e o feminismo

Eu tive uma única disciplina de filosofia na faculdade - e na vida. Se chamava Introdução ao Pensamento Filosófico e Científico e era um saco. Primeiro porque uma das aulas era às sete da manhã de terça (a única aula que tínhamos as sete da manhã, o único dia que eu tinha que acordar mais cedo). Segundo porque a outra aula tomava toda a tarde de sexta. Sabe, tarde de sexta, aquelas horas em que a única coisa em que você pensa é que quer que acabe logo pra chegar o fim de semana? Pois é. Por último, mas não menos importante, porque era uma aula chata de filosofia.
De tudo o que lemos em sala naquele semestre, eu me lembro de duas coisas: uma, de que "o ser é e não pode não ser, enquanto o não ser não é e não pode ser de forma alguma". O nome do filósofo eu tive que procurar no Google: Parmênides de Eléia. Eu nunca entendi exatamente o que ele quis dizer ou a que se aplica, pra falar a verdade, mas decorei a frase porque achei divertida a forma como ela não fazia nenhum sentido na minha cabeça.
A segunda coisa é legal, é de Platão (mas eu tive que procurar isso no Google também, porque não lembrava): O Mito da Caverna (ou a Alegoria da caverna). Resumindo a grosso modo, ele compara a humanidade a um grupo de pessoas acorrentadas, desde a mais tenra infância, no fundo de uma caverna, olhando para a parede. Tudo o que elas sabiam do mundo fora da caverna, eram as sombras que se formavam na bendita parede. Do lado de fora, escravos carregavam, para lá e para cá, sobre os ombros e por detrás de um muro, vasos, trouxas, estátuas, whatever... E, assim, essas pessoas no fundo da caverna, que só viam sombras, acreditavam que fora dali viviam serem gigantes, de formas estranhas, blá, blá, blá. Até que um dia, um desses acorrentados consegue sair da caverna e vê que não era nada disso. E volta para contar aos demais, que, claro, não acreditam nele.
Esse cara era o filósofo. E, segundo Platão, sua missão era justamente esclarecer a sociedade sobre assuntos que ela desconhecia, e de que ele, como estudioso e iluminado, já tinha compreensão.
(E que me perdoe meu professor de filosofia se eu entendi tudo errado)
Resumindo a mais grosso modo ainda: é Matrix, minha gente! E tipo "Matrix A.C."
E porque eu estou falando disso agora? Porque eu fico seguindo esses blogs de feminismo e tem sempre um mala pra dizer um "mas e as mulheres que querem ficar peladas na TV? Vocês estão dizendo que elas não têm direito? E as que querem casar com o cara que as trata mal? Não podem mais escolher? E as que querem fazer tudo isso o que vocês lutam contra? Cadê o livre arbítrio?" (chaaatos)
A resposta é simples: Mito da caverna. A gente adoraria que todas as mulheres tivessem a consciência de que não precisam aceitar certos tipos de coisa, que todas pensassem que vale a pena ser mais do que mais uma bunda na TV, que todas aquelas que querem emagrecer ou alisar o cabelo apenas para se encaixar nos padrões de beleza impostos pela mídia se assumissem baixinhas, gordinhas, cacheadas e felizes, e que a mídia fosse simplesmente obrigada a pensar em produtos para atendê-las, em vez de obrigá-las a atender aos produtos que a mídia quer vender. Mas principalmente, a gente adoraria que elas fizessem suas escolhas conscientemente, e que fossem respeitadas por isso.
Mas tem gente, homem e mulher, que ainda está lá no fundo da caverna, olhando pra parede. Tem mulher que julga mulher como se fosse homem, e machista. Tem gente que ainda culpa a mini saia da menina pelo estupro. Tem gente que me diz que ensinar a escovar os dentes é tarefa da mãe, necessariamente. Tem gente que ainda acha o sujeito que trata as mulheres com educação e respeito, não é homem de verdade. Que dois homens de mãos dadas é nojento, mas duas mulheres se beijando, aí sim é legal porque né? pornô de graça.
Ainda tem. E vai continuar tendo, infelizmente, por muito tempo, ainda. O que a gente faz - e esses blogs fazem bem melhor que eu - é tentar mostrar como pode ser a vida do lado de fora da caverna. Fora da matrix. E cada um que a gente consegue trazer pro nosso lado é uma vitória. É mais uma menina que não vai transar só para agradar o namorado. É mais um cara que vai ensinar o filho (dando o exemplo, do jeito que tem que ser) que mulher tem que ser tão respeitada quanto o homem. É mais um jovem que vai sair do curso de marketing pensando em uma maneira nova de fazer propaganda - que não seja mulher pelada pra cerveja e mulher de aliança no dedo pra produto de limpar o banheiro. E que não sejam os pais bobões de sempre (só eu reparo que pai de comercial é sempre bobalhão?), que explodem o microondas e só servem pra comprar celulares novos pros filhos -. É um futuro arquiteto que vai colocar uma mesa de trocar fralda no banheiro masculino também, porque pai também pode trocar fralda, afinal de contas. Sei lá vários exemplos.
Várias coisas.
Cada uma dessas pessoas vai ajudar a construir um futuro melhor, assim, mesmo, bem piegas. é o que eu espero de tudo isso. Eu vivo num mundo machista, mas meus filhos hão de viver num mundo mais equilibrado. Meu filho não há de me dar o desgosto de transar com a namorada desacordada e minha filha não há de me dar o desgosto de achar que TEM QUE participar do Miss Bixete pra ser aceita pela sociedade acadêmica. E isso, pra mim, já vai ser uma vitória do meu feminismo.
Porque mentalidade não se muda retroativamente, e porque a gente começa a mudar o mundo mudando o que está mais próximo de nós.