sexta-feira, 10 de agosto de 2012

abaixo as senhoritas

Um tempo atrás, não me lembro como, eu cheguei a um artigo sobre um movimento das feministas francesas para que se acabasse com o pronome Mademoiselle. Segundo as moças francesas, essa diferenciação entre a mulher solteira (mademoiselle) e casada (madame) - que não existe entre os homens - e a consequente diferença de tratamento que ela insinua, é uma das mais enraizadas "tradições" machistas da nossa sociedade, visto que, como alega o grupo Osez le Féminisme:

"transmite a impressão de que uma mulher só alcança sua plenitude depois de casada, quando, então, a 'madame' (senhora) se iguala ao 'monsieur' (senhor)". (http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/20057/franca+abandona+termo+mademoiselle+em+documentos+publicos.shtml)

À primeira vista, pode parecer besteira, coisa de quem fica procurando chifre em cabeça de cavalo (como aliás, se diz de tudo o que é considerado "feminista"). O fato, no entanto, é que a privacidade da mulher era invadida, a condição de seu relacionamento (ou a não existência dele) exposta, enquanto, em momento nenhum, ninguém se metia na vida dos homens. Não interessava a ninguém se o sujeito era solteiro, enrolado, casado, "juntado" ou desquitado. O tratamento era o mesmo. Somente a mulher era obrigada a informar seu estado civil, mesmo que indiretamente, ao ser perguntada se mademoiselle ou madame.
Sim, era. Não é mais. Em fevereiro, o gabinete do primeiro ministro anunciou que o termo não pode mais ser utilizados em documentos públicos. Ponto para elas. A luta das feministas, agora, é para convencer as empresas privadas a seguir o exemplo.
É possível que você, lendo isto, pense: "oras, mas que mal tem isso? Sempre foi assim e ninguém nunca reclamou antes! Até parece que isso vai resolver todos os problemas, banir o machismo da face da Terra. E até parece que essa mulherada não vê que tem um monte de coisas muito piores acontecendo por aí!"
Acontece que, primeiro: um monte de coisas que "sempre foram assim" só deixaram de "ser assim" porque alguém brigou por isso. E o fato de sempre terem sido assim não significava que eram boas. As mulheres não votavam, não trabalhavam fora, não estudavam. Não escolhiam sequer seus maridos. E precisavam estar sempre sob a "custódia" de um homem ou serem castas viúvas para serem respeitadas (basta assistir a alguns capítulos de Gabriela para ver como as coisas funcionavam nem faz tanto tempo assim).
Sempre tinha sido assim e continuaria sendo se alguém não tivesse brigado pela mudança. E essa iniciativa, com certeza, não seria tomada por um homem, pois que a vida deles estava muito confortável do jeito que sempre tinha sido.
Em segundo lugar, o machismo e todos os preconceitos e atrocidades que dele derivam não serão extintos de uma hora para outra. É preciso dar um passo de cada vez. E o passo que as francesas deram é, a meu ver, muito importante, sim, se você olhar para a frente. As futuras gerações não conhecerão a diferença de tratamento entre uma mulher solteira e outra casada como a conhecemos e, assim sendo, não farão essa distinção. E é assim que se acaba com um "pré-conceito".
Da mesma forma como para nós, hoje, é óbvio trabalhar, votar, dirigir e tantas outras coisas que nossas antepassadas tiveram que brigar muito para conseguir, para os filhos dos franceses será óbvio que um homem é um homem (e será chamado monsieur) e uma mulher é uma mulher (e será tratada por madame), independentemente de seu estado civil. Eles até saberão que essa diferença existiu um dia, mas ela não fará parte da sua realidade.
Acho a iniciativa louvável.

Um comentário:

  1. Acho que é justamente porque o machismo esta nesses 'pequenos' detalhes, como o tratamento senhor, senhora e senhoria, que ele segue firme. Afinal isso é 'besteira' ¬¬
    Mas aí entra o que você falou, a longo prazo isso é uma pequena grande mudança na sociedade. Quando isso se tornar normal talvez alguem se pergunte ou comente que estranho era ficar diferenciando Senhora de Senhorita rs

    Acho que só quem trocou de time (transgênero, por exemplo) pode falar sobre essas diferenças. Porque acho que só assim pra saber de falar como a sociedade encara um homem e uma mulher. A vida de homem deve ser muito fácil comparada a de mulher - acho mesmo.

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